domingo, 16 de novembro de 2008

Novembro tem mais duas semanas

Algo morreu dentro de Lúcia enquanto o cheiro da carne assada se espalhava pela casa e temperava o ar. As coisas voltaram a ser as mesmas. A menstrução chegou com atraso. E se estivesse grávida?. As coisas nunca mais seriam as mesmas. Novembro tem mais duas semanas. Estou sem grana e preciso trabalhar bem nos próximos meses. Seria bom estar fora durante as festas. Fugir da alegria obrigatória. Viajar com pouco e com pausas para escrever. Ela sabe que, no fundo, escrever não depende de onde você está, mas de como se está. Delicada tessitura que independente de você. Ver o Pacífico pela primeira vez. Estar com ele e comigo. Minha avó não vive, dura. Eu mesma não vivo, duro. Viu a entrevista do ator na tevê falando da força do encontro com a própria vocação: "O desejo empurra o acaso para que o destino se cumpra". Teve vontade de dar um beijo na boca de. Teve vontade de ter mais vontade de tudo. O amor, onde está o amor? Como falar de coisas complexas de forma simples? A vida acadêmica apazigua as paixões. Eu as quero queimando. Quis afastar-se de tudo, como a câmera do filme das mulheres pobres que vão ao Pitangy que se afasta para ouvir a confissão. Do amor que não foi. Do homem que partiu com a sobrinha. Da vontade de arrancar um pedaço de si e ser outra. "Não vejo a hora de ter novas pernas!". Os dados estão presos no armário. O escritório é a parte mais exposta da casa. Lúcia plantou a raiz da rúcula num vaso com terra boa. Será que alguma coisa vai brotar? Decidiu acender uma vela para São Jorge. Eu não estou aqui, anotou no caderno amarelo. Alguma coisa me tira de mim. Novembro tem mais duas semanas.

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