domingo, 4 de março de 2007

Antropofagia

Sala de aula. Segunda-feira de manhã. Mormaço. Num relance displicente, o movimento dos meus olhos repousa sobre teus pés. Ligeiramente bronzeados, unhas expressivas, alinhadas em traçado firme, pêlos escuros logo abaixo delas. Resquícios do animal que fomos um dia, quando tudo era mais simples. Quando o sexo era o sexo e isso bastava. Vejo teus pés escuros envoltos por uma charmosa sandália de couro marrom e não quero mais nada. Tento subir os olhos, ver teu rosto, tua boca, tua expressão, mas o que me encanta são teus pés, desisto. As veias grossas que carregam o teu pulso, o teu ritmo, a tua forma de trepar que me diverte imaginar. Acho bonito o sangue ser vermelho e não de outra cor. O teu pé, ele está aí, pra quem quiser ver, mas este pé que vejo agora, visão cortante que me delicia, é meu, só meu. Olho mais. Suam as mãos. Salivo. Palpito, tremo, quase sufoco. Até que pulo sobre você e, como um tigre, cravo meus dentes em teu tornozelo. Você reluta, mas eu consigo arrancá-lo. Te deixo sem pé e nem ligo.
- Quer de volta? Vem buscar!

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